Pesquisar este blog

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Juiz Federal diz que seria reprovado no exame da OAB

Leio, em Eça de Queiroz: “Eu, por causa da maciça e indebastável ignorância de bacharel, com que saí do ventre de Coimbra, minha mãe espiritual”, (do conto Civilização). Também em Machado de Assis: “Vinha cheirando ainda aos cueiros da academia, meio estudante e meio doutor, aliando em si, como em idade de transição, o estouvamento de um com a dignidade do outro” (A mão e a luva).

Pois bem. Quando me formei, já em época diferente da dos tempos de Eça e de Machado, também sai ignorante dos cueiros da Faculdade de Direito de Sergipe, situação que continuou e continua, independentemente da faculdade ser sergipana ou de centro maior do país, ou de estarmos a viver tempos modernos. Ninguém sai doutor. A bagagem portada é indicativa de caminhos que devem ser tomados quando o problema, na via prática, se forma. Com o diploma na mão e no exercício de uma profissão, dentro do círculo de atuação escolhido, se vai praticando e aprendendo, aprendendo e praticando, pelo resto da vida. Hoje, na véspera de trinta e sete anos de formado, estou ainda a aprender, com os mais velhos e com os mais novos, diariamente, em cada processo de que sou relator e em cada feito do qual participo, na turma e no pleno.

A Ordem dos Advogados do Brasil, contudo, encara o formado como douto. Não é nem como doutor. É como especialista, não em uma matéria, mas em todas, invariavelmente em todas, ao exigir a aprovação em prova objetiva elaborada para passar a paulada na grande maioria dos bacharéis. E o pior é que as pessoas, que comandam tal tarefa – quase dizia fuzilamento – não se submeteram a tal prova, e, com todo o respeito devido, se tivessem feito, ou se fossem fazer (não é desafio, é realidade), não seriam aprovadas. E ao assim afirmar, não estou ofendendo o cabedal de conhecimento de nenhum membro da diretoria da OAB, seja regional ou nacional, porque eu, apesar de ser membro de um tribunal, com trinta e dois anos de exercício na magistratura, também seria reprovado.

Tem mais: a prova não é nem elaborada pela OAB, mas por ente, geralmente uma fundação, por ela contratada. Ou seja, o exame da OAB é feito por terceiros, porque a OAB não redige a prova (e por que não é a OAB?). Se a prova se integra naquilo que a lei da OAB chama de exame da Ordem, é um terceiro, constituído de pessoas sem a experiência das lides forenses, que vai formular as perguntas, colorindo cada uma de casca de banana, para o candidato escorregar, explorando matérias sem nenhuma conexão prática, e, ainda mais satânico, exigindo do recém formado um cabedal de conhecimentos que só mais tarde, dedicando-se a uma advocacia generalizada e abrangente, poderia obter. Poderia. Ademais, a objetividade da prova, por se cuidar de teóricos, especialistas em formulação de quesitos apenas, sem a experiência prática da lide forense, se perde na falta de objetividade. Em miúdos, a prova, que deveria ser objetiva, objetiva não é.

Se o teste é da OAB, se o teste visa, pelo menos, no plano teórico, a obter os conhecimentos do formado que deseja se inscrever nos seus quadros e poder atuar na profissão, como advogado, deveria a OAB, levando em conta as nuances da profissão, a redigir a prova, a reclamar conhecimentos fundamentais e não extraordinários. Das últimas que vi, por força de feitos que passaram em minhas mãos, fiquei perplexo com o nível de perguntas. Pontes de Miranda e Nelson Hungria acertariam as questões constitucionais e penais, respectivamente. Mas, perderiam nas demais, porque os quesitos são formulados para não serem respondidas, e, ademais, não se conhece, na história forense, o profissional, por melhor que seja, dominar todas as matérias, absolutamente todas, simultaneamente.

O teste da OAB mostra a existência de duas realidades, que se chocam. A primeira, que os dirigentes da OAB viveram quando se formaram e foram a luta, na qual o recém formado sai ignorante dos cueiros da academia, e, vai aprendendo aos poucos. Quem escapar dessa linha é sábio, é gênio, e aí foge à rotina. A segunda, é a irreal, ou virtual, onde se pensa que o recém formando deve saber, a fundo, de tudo e de todas as matérias. Não sei como qualificar essa visão.

Dou um exemplo, vivido por mim. Apesar de ter sido juiz de direito por seis anos e juiz federal por vinte e três, atuando em duas comarcas e substituindo outras, e, depois, em três estados, estando, no momento, em um tribunal com jurisdição em seis estados, relatando processos criminais e participando de julgamento destes na turma e no pleno, eu nunca vi, na minha mesa, um processo criminal focalizando um delito de concussão. Nunca. Sou capaz de apostar que me aposento e não vou lidar com a concussão. No entanto, num destes testes, estava lá uma pergunta atinente às características do crime de concussão.

Se há algo de podre no reino da Dinamarca, há algo de estranho, de profundamente estranho, nas provas da OAB, algo que precisa ser revisto, porque, da mesma forma que os marinheiros se forjam no mar, como diria Machado de Assis, o advogado se forja é no foro, na atuação nos feitos, e não na resposta a perguntas de bolso, formuladas por quem nunca pisou no foro, nem nunca viu um processo ou participou de uma audiência.

**Juiz Federal. Texto enviado pelo leitor Elizio Brites, Presidente do MNBD/MS - Movimento Nacional dos Bachareis em Direito de Mato Grosso do Sul

Um comentário:

  1. Esse texto tem CHEIRO DE HOAX!!!
    Alguém sabe dizer por que esse bendito juiz federal não é identificado em nenhum lugar que esse texto é postado??

    Para mim a resposta é simples: porque não é verídico. Não foi escrito por juiz nenhum, mas por alguém de algum movimento "ante-exame". Basta ver que foi enviada por um presidente de uma dessas associações...

    Gente, por mais que existam milhares de estudantes frustrados por não obter aprovação, é fato que se trata de um mal necessário.
    Todos que cursaram direito têm inúmeros casos para contar de estudantes que conseguem se graduar sem um mínimo de capacidade técnica. Não são raros os graduados que são até mesmo analfabetos funcionais!

    Daí dizem "mas para medicina não precisa prova". Pois bem: o CFM deveria copiar a OAB e não o contrário! Meu sobrinho, de 6 meses, passou essa semana por 5 (cinco) médicos particulares diferentes, que deram 5 (cinco) diagnósticos diferentes e ERRADOS. Por fim, em desespero, teve que ser internado em hospital público. Finalmente foi diagnosticado e tratado. Agora a família encontra-se em pânico, torcendo para que não seja tarde demais!
    Em tese, acredita-se que médico particular seja "melhor", certo? Pois bem... Refleti sobre o assunto e cheguei à conclusão: médico público faz concurso; se prepara, estuda, se capacita.

    Essa é apenas a MINHA opinião. Não pretendo ser o dono da verdade, mas acredito (e reitero-me) ser o exame de ordem um mal necessário.
    É fato, entretanto, que a formulação e correção das provas tem sim que ser questionada. Também me questiono se não há um conflito de interesses gerado pelo valor arrecadado com as inscrições. É muito dinheiro por nada... Quer filtrar os profissionais? Que, então, esse filtro não represente uma belíssima fonte de rendas, como tem ocorrido!! Nesse ponto o exame é imoral! São quase R$100.000.000 (cem milhões de reais) em arrecadação anual. É como se a OAB estivesse dos dois lados do balcão ao mesmo tempp: comprando e vendendo.

    Detalhe: ainda não fui aprovado no dito exame. Seria cômodo eu simplesmente engrossar o coro pela extinção do mesmo, facilitando minha vida com isso; mas tenho medo da enxurrada de maus profissionais que poderia ocorrer!

    ResponderExcluir