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terça-feira, 17 de maio de 2011

Artigo sobre o Exame de Ordem

* Por Lilian Divina Leite

Sou a favor do exame de Ordem, não da forma como vem sendo aplicado, mas eu sou a favor do Exame. Os meus motivos podem parecer egoístas, estudei em uma Universidade cujos professores não tinham dó do aluno. Para conseguir passar nas disciplinas, tive que ler Doutrinas e mais Doutrinas que sei que, muitos estudantes de Direito se quer ouviram falar. Durante cinco anos não pude relaxar ou curtir qualquer coisa que seja, enquanto todos estavam “curtindo a vida” eu estava estudando. Enquanto amigos e conhecidos estavam gastando com roupas e viagens, eu estava comprando livros. Alguns deles são marcados com lágrimas, quantas vezes chorei enquanto estudava, por vezes tinha que estudar três ou quatro doutrinas só para fazer uma prova. Isso não era prazeroso, parecia mais uma tortura sem fim. Estresse? Era uma coisa comum entre meus colegas. Dos que começaram comigo, somente 19 colaram grau no mesmo dia que eu, os demais não agüentaram a pressão, outros desistiram ou deixaram para depois. Não se paga Universidade Federal, então, o problema não era falta de grana, pararam em razão da dificuldade do curso.

Ontem fui à Defensoria Pública de São Paulo, havia cerca de 300 pessoas para serem atendidas, alguns chegaram as 6h para pegar uma senha. Depois de ser atendida e passar por várias pessoas, enfim consegui ter acesso a “Advogada”, que nada mais era do que uma estagiária auxiliada por outro estagiário. Todas aquelas pobres pessoas pensavam tratar-se de Advogados, mas pelo desconhecimento quase total da Lei, logo percebi que não eram Advogados, apesar de estarem vestidos como tais e se comportarem com uma típica arrogância, era fácil perceber que possuíam pouquíssimo conhecimento jurídico. Fiquei com dó das pessoas que passaram o dia todo para conseguir falar com aqueles “Advogados”. Não estou dizendo que estagiários não tem competência, conheço alguns que são melhores que muitos Advogados formados há muito tempo, estou criticando os estudantes que nunca se quer leram uma doutrina inteira, que fizeram uma faculdade de Direito brincando, colando ou comprando seus diplomas com mensalidades altíssimas. Não acho justo que sejam chamados de Advogados. Quando penso em todo sofrimento dos meus colegas para terminarem a faculdade, dos finais semanas que passávamos estudando enquanto outros passeavam, não consigo aceitar que aqueles que não têm um décimo de conhecimento que temos sejam chamados, reconhecidos como Advogados e igualados a nós. Terminei o curso em Setembro de 2009. Estou aguardando pela segunda vez o resultado da 2ª fase que sai dia 20/05/2011, não acho justa a forma com que a banca examinadora tem agido. Muitos especialistas têm afirmado que a prova tem sido tão difícil quanto as de concursos de Magistratura. Sem falar nas injustiças absurdas que tem ocorrido por parte da Banca Examinadora. Acredito que muitas coisas referentes ao Exame devem mudar, mas não concordo em acabar com ele. Ainda que tenha que fazer muitas outras provas, vou continuar sendo a favor. Porque quando alguém me chamar de Drª e confiar muitas vezes a sua vida em minhas mãos, eu quero ter certeza que sou digna de tal respeito e confiança.

Quero deixar claro que também fico indignada quando vejo analfabetos jurídicos que são inscritos na OAB, pessoas que adquiriram o Título de Advogado antes de existir o Exame de Ordem. Confesso que quero morrer quando vejo a ignorância de muitos Advogados que tem seus nomes inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil.

Quase tive uma sincope quando a tia Advogada de um conhecido ficou indignada com a justiça brasileira por confundir uma Contestação com uma Sentença. Como isso? Alguém fez a Petição e ela só usou do “poder” da assinatura. Até um estudante de 1º Período do “Varejão do Ensino” sabe a diferença. Sim, eu sei que existem aberrações inscritas na OAB. Sei perfeitamente que existem advogados que não tem a metade do conhecimento que muitos estudantes de direito tem. Mas isso não justifica o fim do Exame de Ordem. Não é justo detonarmos o respeito que o título de Advogado ainda carrega, abolindo a prova que avalia o Bacharel e concede sua inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil.

Enquanto lia os Clássicos e Doutrinas Jurídicas, sonhava em ajudar pessoas e não em atrapalhá-las. Porque é isso que acontece quando “Advogados” sem capacitação nenhuma faz com as pessoas, atrapalham, isso quando não destroem suas vidas e sonhos com sua incompetência advinda da falta de conhecimento.

Demorei anos para conseguir ingressar em uma Universidade Federal, mais outros para ser Bacharel, e estou disposta a esperar tantos anos quantos forem necessários para ser digna de ser chamada de Advogada. Pode até demorar, mas quero merecer o título e poder assim honrar a categoria como sonhei desde menina.

São Paulo, 17 de maio de 2011

Lilian Divina Leite

* O artigo não reflete necessariamente a opinião do site.

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